quinta-feira, 5 de julho de 2018

Yeshu ben Pandera (Jesus filho de Pantera)





Um Jesus Antes de Cristo
O manuscrito Sepher Toldoth Yeshu (Livro da Genealogia de Jesus, em hebraico) descreve um Yeshu ben Pandera (Jesus filho de Pandera) do tempo dos Asmoneus da seguinte maneira:

Resumo do Sepher Toldoth Yeshu (tradução livre do inglês)
No reinado de Alexandre Janeu, um inútil devasso chamado José Pandera vivia perto da casa de uma jovem chamada Maria, noiva de um certo homem de nome João. Pandera seduziu Maria e esta ficou grávida.
Quando João soube que a sua noiva estava grávida, dirigiu-se ao seu perceptor Simão ben Shetach. Este aconselhou-o a arrolar testemunhas para levar o culpado ao Sinédrio, mas João, para evitar a vergonha, fugiu para longe.
Entretanto, Maria deu à luz a um rapaz e chamou-o Jesus (heb. Yehoshua, Yeshu). Quando cresceu, o rapaz mostrava-se insolente com os magistrados do Sinédrio. E as pessoas diziam “Que bastardo!”. Simão ben Shetach disse, então: “Sim, este é o filho de Pandera e Maria que era noiva de outro”. Os outros disseram: “Portanto, ele é mesmo um bastardo filho de uma adúltera!”.
Publicou-se um edito, expulsando-o do seu meio, e Jesus fugiu para a Galileia, onde morou muitos anos. Quando também na Galileia soube-se que Jesus era filho ilegítimo ele retornou secretamente a Jerusalém.
Ora, havia uma pedra no Templo onde estava gravada a Shem ha-Mephorash (a Palavra Inefável, o nome secreto de Deus, que dava grandes poderes a quem a conhecia). Essa pedra foi descoberta por David no fundo de um abismo e foi colocada no santíssimo do Templo. Posteriormente, os homens sábios, receando que alguém imprudentemente tomasse conhecimento da Palavra Inefável escrita na pedra, mandaram colocar dois leões mágicos de bronze à entrada do santíssimo do Templo que rugiriam provocando um total esquecimento.
Jesus entrou no Templo, e registou as letras sagradas num pergaminho. Depois cortou a sua carne, escondeu o pergaminho dentro e voltou a fechar a carne. Quando saiu, os leões rugiram e ele esqueceu-se de tudo, mas já fora da cidade, voltou a abrir a sua carne e recuperou o pergaminho.
Depois foi à cidade e clamou a todos: “Não sou filho de uma virgem? Eu sou o Filho de Deus que Isaías profetizou que viria de uma virgem!”. Os que o ouviam diziam: “Mostra-nos um sinal”. Levaram-lhe ossos de um morto e ele devolveu-lhe a vida, restaurando-lhe tendões, carne e pele. Levaram-lhe um leproso e ele curou o leproso. E os que viram ajoelharam-se e disseram “Tu és o Filho de Deus”.
Mas os anciãos sábios ficaram apreensivos com as notícias e montaram uma cilada a Jesus, enviando-lhe mensageiros que lhe disseram: “Os ilustres de Jerusalém chamam-te porque ouviram que és o Filho de Deus”. Jesus respondeu “irei se me receberem tal como os escravos recebem o seu senhor”.
Estabelecido o acordo, Jesus dirigiu-se a Jerusalém montado num burro e foi recebido com grande pompa.
Entretanto os sábios queixaram-se à rainha (Salomé Alexandra) e exigiram a pena de morte para Jesus. Mas a rainha, não convencida da acusação, pediu uma audiência com Jesus.
Jesus foi então levado à presença da rainha e mostrou os seus poderes, curando um leproso e ressuscitando um morto. A rainha disse então aos sábios: “Porque dizem que este homem é um feiticeiro? Pois eu vi que ele é realmente o Filho de Deus. Desapareçam e nunca mais me tragam uma acusação destas!”.
Depois os sábios reuniram-se novamente e decidiram escolher um deles para aprender a Shem ha-Mephorash e para provarem que assim poderiam fazer o mesmo que Jesus. Um deles, de nome Judas, propôs-se para este desafio.
Entretanto a rainha convocou uma nova audiência, desta vez com Judas e Jesus. Jesus começou por dizer “Assim como as escrituras dizem acerca de mim eu vou subir ao céu para o meu Pai celeste” e, proferindo a Shem ha-Mephorash, começou a subir aos céus. Judas também proferiu a fórmula secreta e, subindo também, começou a puxar Jesus para baixo. Combateram até que Judas derramou o seu suor em Jesus tornando-o impuro. Então, eles ficaram impuros com o suor, e como a Shem ha-Mephorash só funciona em estado de pureza, caíram ao solo, e foi declarada a sentença de morte a Jesus. Mas os discípulos conseguiram fazer Jesus escapar  para fora da cidade.
Jesus dirigiu-se ao Jordão, onde lavou-se e purificou-se, recuperando os seus poderes. Depois pegou em duas pedras de moinho, colocou-as a flutuar na água e sentou-se nelas a pescar para uma multidão que comeu os peixes.
Quando os sábios souberam que Jesus estava novamente a exibir poderes, Judas propôs-lhes que iria misturar-se secretamente com os discípulos de Jesus. Assim o fez e, numa noite, Judas encontrou Jesus a dormir numa tenda, cortou-lhe a carne e removeu-lhe o pergaminho.
No dia da festa dos pães não fermentados Jesus, com a intenção de ir ao Templo recuperar a palavra secreta, dirigiu-se com os seus discípulos para Jerusalém. Entretanto Judas foi avisar os sábios para estarem atentos porque ele iria denunciar Jesus, prostrando-se aos seus pés. E assim, Jesus foi capturado.
Jesus foi amarrado a um pilar e chicoteado. Colocaram-lhe uma coroa de espinhos e, quando ele pediu água, deram-lhe vinagre para beber. Jesus então proferiu “Meu Deus, porque me abandonaste?”. Depois, foi levado ao Sinédrio para lhe proferirem a pena de morte e, por fim, foi apedrejado até à morte.
Procuraram uma árvore para o pendurarem, mas não encontraram nenhuma capaz de suportar o peso de um homem. De modo que o penduraram numa haste de um grande repolho! Mas, à noite, enterraram-no no local onde fora apedrejado. Judas, receando que os discípulos roubassem o corpo e dissessem que Jesus tinha ascendido aos céus, removeu-o da sepultura e escondeu-o no seu jardim.
No dia seguinte, os discípulos não encontraram o corpo na sepultura e proclamaram que Jesus tinha ascendido aos céus. Por isso a rainha convocou todos os sábios com o seguinte ultimato “Se não encontrarem o corpo serão todos mortos!”.



A grande curiosidade aqui é que esta história possui contornos semelhantes a do Jesus dos evangelhos, embora com um enquadramento histórico diferente.
O enquadramento histórico do Sepher Toldoth Yeshu coloca o nascimento de Yeshu ben Pandera no reinado de Alexandre Janeu, entre 103 e 76 AC., e a sua morte durante o reinado de Salomé Alexandra, entre 76 e 67 AC. Existe, portanto, um lapso de cem anos em relação ao tempo dos evangelhos, ou seja, ao tempo de Herodes Antipas e Pilatos e, por este raciocínio, poderíamos considerar que uma versão primitiva do Sepher Toldoth Yeshu antecedeu a escrita dos evangelhos.
Coincidência ?

Não pode ser coincidência, por exemplo, o Evangelho Segundo Mateus iniciar-se com a frase “Livro da genealogia de Jesus” (ou “Livro da história de Jesus”), que deveria ser provavelmente o nome original deste evangelho, antes de ser conhecido pela sua designação atual.

Por volta de 248 D.C., o apologista cristão Orígenes escreveu no seu livro Contra Celsus:
Contra Celsus (de Orígenes), Livro I, Capítulo XXXII
“-Celsus - falando da mãe de Jesus, disse: “quando ela estava grávida foi expulsa pelo carpinteiro do qual estava noiva, por culpa de adultério, porque concebera um filho de um soldado chamado Pandera (Panthera)” ...
Orígenes referia-se ao livro -Verdadeira Palavra - do autor romano Celsus que depreciava as crenças cristãs. Este livro terá sido escrito por volta de 178 D.C. Presumivelmente, Celsus terá baseado a frase (citada por Orígenes setenta anos depois) numa história semelhante ao Sepher Toldoth Yeshu.

O túmulo de Tibério Pandera
Em outubro de 1859, durante a construção de uma ferrovia em Bingerbrück na Alemanha, nove lápides romanas foram descobertas acidentalmente.

Uma das lápides apresentava a seguinte inscrição:

Tibério Iulius Abdes Pantera,
de Sidon, com idade de 62 anos,
serviu 40 anos, ex-porta-estandarte
do primeiro grupo de arqueiros
encontra-se aqui.

Atualmente, conservada no museu Römerhalle em Bad Kreuznach, Alemanha, trata-se da lápide de um soldado chamado Tibério Iulius Abdes Pantera.

A hipótese de ligação histórica deste soldado com Jesus de Nazaré foi levantada por James Tabor, com base na alegação de Celsus. A hipótese foi considerada extremamente improvável pela maioria dos acadêmicos, uma vez que não havia nenhuma evidência para apoiar que este Pantera, em particular, seria o mesmo que foi referido por Celsus.
O nome Pantera não seria um nome raro. Antes do final do século XIX, havia a hipótese de que o nome seria raro ou mesmo fabricado (no Sepher Toldoth Yeshu), mas posteriormente alguns acadêmicos mostraram que foi um nome usado na Judeia e especialmente comum entre soldados romanos.


5 comentários:

  1. Valeu mano! Excelente conteúdo! Tudo de bom!

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  2. Pois é são tantas historias sobre jesus,mas pessoas insistem em confiarem apenas uma verdade,,, que lhes foram apresentadas,o povo não evolui.

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  3. Estou acompanhando os textos e tudo bem explicadinho👏👏👏👏👏👏

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Como surgiu a Religião?