Um Jesus
Antes de Cristo
O manuscrito
Sepher Toldoth Yeshu (Livro da Genealogia de Jesus, em hebraico) descreve um
Yeshu ben Pandera (Jesus filho de Pandera) do tempo dos Asmoneus da seguinte
maneira:
Resumo do Sepher
Toldoth Yeshu (tradução livre do inglês)
No reinado de Alexandre
Janeu, um inútil devasso chamado José Pandera vivia perto da casa de uma jovem
chamada Maria, noiva de um certo homem de nome João. Pandera seduziu Maria e
esta ficou grávida.
Quando João soube que a
sua noiva estava grávida, dirigiu-se ao seu perceptor Simão ben Shetach. Este
aconselhou-o a arrolar testemunhas para levar o culpado ao Sinédrio, mas João,
para evitar a vergonha, fugiu para longe.
Entretanto, Maria deu à
luz a um rapaz e chamou-o Jesus (heb. Yehoshua, Yeshu). Quando cresceu, o rapaz
mostrava-se insolente com os magistrados do Sinédrio. E as pessoas diziam “Que
bastardo!”. Simão ben Shetach disse, então: “Sim, este é o filho de Pandera e
Maria que era noiva de outro”. Os outros disseram: “Portanto, ele é mesmo um
bastardo filho de uma adúltera!”.
Publicou-se um edito,
expulsando-o do seu meio, e Jesus fugiu para a Galileia, onde morou muitos
anos. Quando também na Galileia soube-se que Jesus era filho ilegítimo ele
retornou secretamente a Jerusalém.
Ora, havia uma pedra no
Templo onde estava gravada a Shem ha-Mephorash (a Palavra Inefável, o nome
secreto de Deus, que dava grandes poderes a quem a conhecia). Essa pedra foi
descoberta por David no fundo de um abismo e foi colocada no santíssimo do
Templo. Posteriormente, os homens sábios, receando que alguém imprudentemente
tomasse conhecimento da Palavra Inefável escrita na pedra, mandaram colocar
dois leões mágicos de bronze à entrada do santíssimo do Templo que rugiriam
provocando um total esquecimento.
Jesus entrou no Templo,
e registou as letras sagradas num pergaminho. Depois cortou a sua carne,
escondeu o pergaminho dentro e voltou a fechar a carne. Quando saiu, os leões
rugiram e ele esqueceu-se de tudo, mas já fora da cidade, voltou a abrir a sua
carne e recuperou o pergaminho.
Depois foi à cidade e
clamou a todos: “Não sou filho de uma virgem? Eu sou o Filho de Deus que Isaías
profetizou que viria de uma virgem!”. Os que o ouviam diziam: “Mostra-nos um
sinal”. Levaram-lhe ossos de um morto e ele devolveu-lhe a vida,
restaurando-lhe tendões, carne e pele. Levaram-lhe um leproso e ele curou o
leproso. E os que viram ajoelharam-se e disseram “Tu és o Filho de Deus”.
Mas os anciãos sábios
ficaram apreensivos com as notícias e montaram uma cilada a Jesus, enviando-lhe
mensageiros que lhe disseram: “Os ilustres de Jerusalém chamam-te porque
ouviram que és o Filho de Deus”. Jesus respondeu “irei se me receberem tal como
os escravos recebem o seu senhor”.
Estabelecido o acordo,
Jesus dirigiu-se a Jerusalém montado num burro e foi recebido com grande pompa.
Entretanto os sábios
queixaram-se à rainha (Salomé Alexandra) e exigiram a pena de morte para Jesus.
Mas a rainha, não convencida da acusação, pediu uma audiência com Jesus.
Jesus foi então levado
à presença da rainha e mostrou os seus poderes, curando um leproso e
ressuscitando um morto. A rainha disse então aos sábios: “Porque dizem que este
homem é um feiticeiro? Pois eu vi que ele é realmente o Filho de Deus.
Desapareçam e nunca mais me tragam uma acusação destas!”.
Depois os sábios
reuniram-se novamente e decidiram escolher um deles para aprender a Shem
ha-Mephorash e para provarem que assim poderiam fazer o mesmo que Jesus. Um
deles, de nome Judas, propôs-se para este desafio.
Entretanto a rainha
convocou uma nova audiência, desta vez com Judas e Jesus. Jesus começou por
dizer “Assim como as escrituras dizem acerca de mim eu vou subir ao céu para o
meu Pai celeste” e, proferindo a Shem ha-Mephorash, começou a subir aos céus.
Judas também proferiu a fórmula secreta e, subindo também, começou a puxar
Jesus para baixo. Combateram até que Judas derramou o seu suor em Jesus tornando-o
impuro. Então, eles ficaram impuros com o suor, e como a Shem ha-Mephorash só
funciona em estado de pureza, caíram ao solo, e foi declarada a sentença de
morte a Jesus. Mas os discípulos conseguiram fazer Jesus escapar para fora da cidade.
Jesus dirigiu-se ao
Jordão, onde lavou-se e purificou-se, recuperando os seus poderes. Depois pegou
em duas pedras de moinho, colocou-as a flutuar na água e sentou-se nelas a
pescar para uma multidão que comeu os peixes.
Quando os sábios
souberam que Jesus estava novamente a exibir poderes, Judas propôs-lhes que
iria misturar-se secretamente com os discípulos de Jesus. Assim o fez e, numa
noite, Judas encontrou Jesus a dormir numa tenda, cortou-lhe a carne e
removeu-lhe o pergaminho.
No dia da festa dos
pães não fermentados Jesus, com a intenção de ir ao Templo recuperar a palavra
secreta, dirigiu-se com os seus discípulos para Jerusalém. Entretanto Judas foi
avisar os sábios para estarem atentos porque ele iria denunciar Jesus,
prostrando-se aos seus pés. E assim, Jesus foi capturado.
Jesus foi amarrado a um
pilar e chicoteado. Colocaram-lhe uma coroa de espinhos e, quando ele pediu
água, deram-lhe vinagre para beber. Jesus então proferiu “Meu Deus, porque me
abandonaste?”. Depois, foi levado ao Sinédrio para lhe proferirem a pena de
morte e, por fim, foi apedrejado até à morte.
Procuraram uma árvore
para o pendurarem, mas não encontraram nenhuma capaz de suportar o peso de um
homem. De modo que o penduraram numa haste de um grande repolho! Mas, à noite,
enterraram-no no local onde fora apedrejado. Judas, receando que os discípulos
roubassem o corpo e dissessem que Jesus tinha ascendido aos céus, removeu-o da
sepultura e escondeu-o no seu jardim.
No dia seguinte, os
discípulos não encontraram o corpo na sepultura e proclamaram que Jesus tinha
ascendido aos céus. Por isso a rainha convocou todos os sábios com o seguinte
ultimato “Se não encontrarem o corpo serão todos mortos!”.
Por fim, Judas entregou
o corpo e eles exibiram-no arrastado por um cavalo.
Esta história faz um retrato muito desfavorável de uma personagem chamada Jesus ben Pandera, descrevendo-a como um inimigo dos judeus. A personagem principal é um pretenso Messias que é desmascarado por um homem chamado Judas.
Esta história faz um retrato muito desfavorável de uma personagem chamada Jesus ben Pandera, descrevendo-a como um inimigo dos judeus. A personagem principal é um pretenso Messias que é desmascarado por um homem chamado Judas.
A grande curiosidade aqui é que esta história possui
contornos semelhantes a do Jesus dos evangelhos, embora com um enquadramento
histórico diferente.
O enquadramento histórico do Sepher Toldoth Yeshu coloca o
nascimento de Yeshu ben Pandera no reinado de Alexandre Janeu, entre 103 e 76
AC., e a sua morte durante o reinado de Salomé Alexandra, entre 76 e 67 AC.
Existe, portanto, um lapso de cem anos em relação ao tempo dos evangelhos, ou
seja, ao tempo de Herodes Antipas e Pilatos e, por este raciocínio, poderíamos
considerar que uma versão primitiva do Sepher Toldoth Yeshu antecedeu a escrita
dos evangelhos.
Coincidência ?
Não pode ser coincidência, por exemplo, o Evangelho Segundo
Mateus iniciar-se com a frase “Livro da genealogia de Jesus” (ou “Livro da
história de Jesus”), que deveria ser provavelmente o nome original deste
evangelho, antes de ser conhecido pela sua designação atual.
Por volta de 248 D.C., o apologista cristão Orígenes
escreveu no seu livro Contra Celsus:
Contra Celsus (de Orígenes), Livro I, Capítulo XXXII
“-Celsus - falando da mãe de Jesus, disse: “quando ela
estava grávida foi expulsa pelo carpinteiro do qual estava noiva, por culpa de
adultério, porque concebera um filho de um soldado chamado Pandera (Panthera)”
...
Orígenes referia-se ao livro -Verdadeira Palavra - do autor
romano Celsus que depreciava as crenças cristãs. Este livro terá sido escrito
por volta de 178 D.C. Presumivelmente, Celsus terá baseado a frase (citada por
Orígenes setenta anos depois) numa história semelhante ao Sepher Toldoth Yeshu.
O túmulo de Tibério Pandera
Em outubro de 1859, durante a construção de uma ferrovia em
Bingerbrück na Alemanha, nove lápides romanas foram descobertas acidentalmente.
Uma das lápides apresentava a seguinte inscrição:
Tibério Iulius Abdes Pantera,
de Sidon, com idade de 62 anos,
serviu 40 anos, ex-porta-estandarte
do primeiro grupo de arqueiros
encontra-se aqui.
Atualmente, conservada no museu Römerhalle em Bad Kreuznach,
Alemanha, trata-se da lápide de um soldado chamado Tibério Iulius Abdes
Pantera.
A hipótese de ligação histórica deste soldado com Jesus de
Nazaré foi levantada por James Tabor, com base na alegação de Celsus. A
hipótese foi considerada extremamente improvável pela maioria dos acadêmicos,
uma vez que não havia nenhuma evidência para apoiar que este Pantera, em
particular, seria o mesmo que foi referido por Celsus.
O nome Pantera não seria um nome raro. Antes do final do
século XIX, havia a hipótese de que o nome seria raro ou mesmo fabricado (no
Sepher Toldoth Yeshu), mas posteriormente alguns acadêmicos mostraram que foi
um nome usado na Judeia e especialmente comum entre soldados romanos.
Valeu mano! Excelente conteúdo! Tudo de bom!
ResponderExcluirObrigado, mano Paulo
ExcluirPois é são tantas historias sobre jesus,mas pessoas insistem em confiarem apenas uma verdade,,, que lhes foram apresentadas,o povo não evolui.
ResponderExcluirVerdade. Acreditam apenas no Jesus católico.
ExcluirEstou acompanhando os textos e tudo bem explicadinho👏👏👏👏👏👏
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